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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

e um traço daquilo brilhou
um laço
um pouco
era tudo
tudo do pouco
pedaço de sol
o brilho
aurora
nascer um ponto de luz
nascer esperança
mais luz
um traço e então
parou
parou nada!
luz tem fim?
acaba no brilho da
ponta
a ponta
heureca!
aponta o fim do
brilho
e mais
e o fim já
não mais!
a aurora
nascia o dia
o dia?
começo de
luz
e a tarde não vem
o começo a
luz
o brilho
aurora...
divisa o início do
dia que
começa e
começa
a esperança sem fim.

domingo, 13 de novembro de 2011

Não é claro

Poderia hoje permanecer sentado nesta cadeira
Nunca mais me levantar
Aqui viver comigo mesmo e minhas angústias
Sentir sede e negar-me a saciá-la
Repensar minha vida, minhas escolhas, minhas ideias

As ideias deveriam mesmo me interessar?
Poderia hoje permanecer vivendo e vivendo e nunca mais pensar
Entender as coisas com a transcendentalidade inversa de Caeiro
Apalpar a matéria com os olhos de quem vê, apenas isso

A matéria existe pra que a utilizemos
Isso é bem óbvio, hoje vejo
Se o mundo abstrato de verdade é importante
Pra que tanta coisa visível?

Deveria hoje expor minha artilharia de pensamentos incisivos
Cortar meus iguais com meus valores de indivíduo
E tornar social o que existe em mim
E viver transparente, minha matéria em abstrato

E a Bahia, o que tem a Bahia com isso?
O que tem Minas?
O que tem a capital federal?
O que tem você, leitor, com isso?

Respondo-lhe, e respondo-lhe porque sei
E não "respondo-me" como você suporia
Enfim, a resposta:
Sem a Bahia, sem Minas e você o presente texto não o seria
Pois para a existência, não prescinde de "de quê?", "de onde?" nem "para quê?"
Não significa dizer as respostas estão claras
Mas elas existem e são várias
Algumas até não conheço.

Conhece, leitor?
Lê meu texto sem ao menos acrescentar seus pedaços perdidos?
Você poderia hoje permanecer sentado na sua cadeira
Munido de interrogações reticentes
Farto de linhas de afronta
E sentir sede na sede de seu cerne existencial
Negar-se, como eu, a saciá-la
Repensar a minha e a sua vida
As minhas e as suas escolhas
Nossas ideias
E chegar a conclusão nenhuma.

Nobre leitor, o meu texto findou-se
Somente ele
Deleite-se ou sofra!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Voz e olhar



Enquanto o olhar estiver voltado para a chaga, a cicatriz do que outrora fora chaga nunca aparecerá.

Enquanto o olhar estiver voltado para o por fazer, o por fazer continuará um por fazer; isto porque o por fazer reclama um alguém para fazer, que, mesmo enxergando o por fazer como um por favor, se verá acuado em meio a um clamor geral, o qual gritará, bradará como endoidecido faminto, “Quero isso!, Quero aquilo!”, “Quero pão sim!, Quero circo sim!, E quero isso como um fim!”.

A voz do fazer difere significativamente da voz do dizer. Esta é voz que soa onde ouvidos não há que ouça; aquela é voz bem alocada, ou seja, voz no lugar certo, voz que promove mudança, voz que contribui, voz efetivamente.

Enquanto a voz produzir sons improdutivos, o “olhar” não presenciará uma harmonia se concretizando, de modo a curar ferida, matar a fome, acordar do sono para descansar em sono, tudo movido por um som.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O brinde é uma celebração.
Uma celebração reclama um motivo.
Qual será o nosso motivo?
Celebraremos o insucesso, a desgraça?
Celebraremos o que um dia vivemos e não existe mais, senão em nossas memórias?
Celebraremos o que sabemos: nunca mais voltaremos a viver 'aquelas experiências', seja por motivação alheia, seja pela unicidade dos fatos?
Viveremos a celebrar os lances do passado com uma taça cheia do presente?
Beberemos dela e nos lembraremos do que nela não se encontra?
Provaremos um vinho nos recordando daquele que não mais se produz, de uma antiga safra ou até mesmo daquele que nunca bebemos?
Gozaremos um passado presente em vez de um presente presente?
Como?
Ah!, claro.
Nosso presente se encontra ausente.
Deveremos resgatá-lo?
Será nosso dever trazer o que por ora não desperta nossos sentidos, não arrebata nossas almas?
Será nosso dever?
Será nosso poder, nosso querer, nosso prazer?
Pra quê?
Transitamos entre o passado e o presente ou, ainda, somente pelo passado, nunca só pelo presente.
Não queremos respostas.
As perguntas bastam-nos.
Bastam-nos?
Sabemos, unicamente, que sentimos e sentimos muito.
Sabemos apenas isso.
Aliás, sabemos?
Talvez não saibamos de nada, enfim.
Sentimentos não dão respostas.
E nós quase não nos desvencilhamos deles.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PASSADO

O porta-retratos porta defuntos
Reporta saudade
Comporta passagem...
Do tempo.
O tempo...
O tempo...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

desApego

Sob a realidade oprimente que agora perturba
Sucumbo ao peso da mente, doença insolente
E sem ao menos escolher remédio de cura
Faço o que posso, oh!, remorso, não me cause loucura!

Não é que eu tenha escolhido o previsto presente,
Não é que eu queira o presente tão vivo e fatal,
Apenas sofro a indiferença do sol ao poente
Que egoísta ilumina e se apaga de mal

Recluso em minha casa, trancafiado em carapaças
Vejo a iminência do meu ato, faço, não faço, tudo em vão
Não é que eu tenha querido tão infurtuna sentença
Mas não me resta um escape, voe longe, meu coração

Após uma vida ferida por um final sem piedade
Celebro a morte, minha morte, e a renascença da outra parte
E mesmo morto de desgosto ouço o choro de lá cessar
Seguindo suspiros de nova vida para o meu grande pesar

Vá com Deus!, exclamo bem alto, para a parte que parte catando os pedaços
Do meu coração, serei racional, pois o que era emoção foi levado pra longe
Espero que volte meus pedaços intactos, remontados, colados por alguém que não sei
Só não quero a minha vida pra sempre polida de razão desmedida e um ego de rei

domingo, 21 de novembro de 2010

Minha vida, uma poesia

Minha  vida é toda uma poesia...
Dos momentos Caeiro
Até Filo- e -sofia.
Das noites de versos
Às palavras vazias.
Das recém madrugadas
Às passadas, vividas.
Dos sermões mal tragados
Ao humilde perdão.

Minha vida é toda uma poesia...
Dos momentos que ia
E hesitei sem pensar.
Dos encontros marcados,
Mal marcados de azar.
Desencontros tolhidos
Aos perdidos ao léu.
Dos verbetes vendidos
Aos mais puros do céu.

Minha vida é toda uma poesia...
Das prosas poéticas
Aos romances sem sal.
Do choro sem lágrima,
Laconismo de Esparta!
Ao disposto frasal.
Dos extremos sem fim
Às medidas medianas,
Entremeios ecléticos,
Um composto de mim.

Não!
Eu cortei uma rima?
Censurei uma métrica?
Arrumei uma desordem?
Baguncei sem razão?

Sim!
Tratei mal meu poema
Caçoei assonâncias
Comi aliterações
Conflitei os meus sons
Suprimi paronímias
Cantei mal meus bordões
E rimei sem querer

Mas, no entanto, contudo
Sou exagero de tudo
De um nada poético
De dizeres perdidos
Em lugares preditos
Com início e fim
De poesia a perdão
De poesia a céu
De poesia até mim
De uma rima a razão
De um poema e um querer
De um fim ao dizer
O intento de agora
De cotar minha vida
Com palavras vividas
Ou outroras de horas
Bem gozadas a esmo
Como o mesmo que ora
Ouso contradizer
Minha vida pra mim.

sábado, 30 de outubro de 2010

Repúdio

Não existe. Não existe o agora. Não existe o presente. Antes ausente; tudo não aconteceria, obviamente por não haver lacuna temporal que "abrigue" e possibilite ocorrências. Sim, isso sim seria o ideal. Por conseguinte, as pessoas não existiriam. Pra que existem as pessoas (agentes do acontecimento), senão para agirem, para realizarem e tornarem real e exequível o potencial humano? É certo que o fato depende do ser e, o ser, depende do fato. Essa reciprocidade inviabilizaria a existência de ambos os fatores. Assim sendo, não existo eu, não existe você, nem mesmo este texto e o motivo pelo qual foi escrito. O inexistente é inexplicável. E só, e fim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sinto falta do ninho em volta
Sinto o ninho: sua falta, de volta.
E à volta as palavras desatam-se
Como o ninho e o "sinto" que falo-te.

Através de meu canto: espanto!
E meu canto, de espanto, atravessa.
O ex-pranto, que tanto!, nem tanto...
Meus dizeres aliviam a pressa.

Sinto falta do ninho em volta...

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(Os poemas têm vida própria. O fim de sua motivação inicial não apaga o brilho de suas palavras. No entanto, não se sabe na verdade o que é o fim.)

sábado, 23 de outubro de 2010

“Ou isto ou aquilo” ou, ainda, Cecília, nada! Escolher apenas entre duas vias é negar a multiplicidade de rumos que a vida pode possibilitar. As coisas não são tão simples assim. Ah!, não, não são. Entretanto é bem verdade que às vezes o futuro é determinado por essa dicotomia, ou pela escolha que se faz diante dela. E é reconhecidamente verídico, também, a aversão que se tem das opções que surgem do nada, sem prévia consulta, sem participação do maior afetado por elas. Oh!, Deus, é como um pleito eleitoral. (Não importa a antipoeticidade da comparação, tendo em vista a proximidade dos eventos) Ele oferece candidatos alheios ao povo, propagandeando propostas e juras sem fim. Assim como numa bifurcação irredutivelmente bifurcada. Não existiria uma terceira opção? É certo, não se quer apenas mais uma opção, talvez uma quarta ou quinta seriam bem-vindas para uma boa apreciação. Reinvidica-se um verdadeiro pluripartidarismo com extensões transcedentes à política. Pede-se opções de radicalismo, de moderação, de erradicação do falsealismo e um pouco mais. Exige-se disputas e ofertas não clichês. Enfim, uma demanda clama por novas opções. Isso se estende a todo o Universo, à todos os âmbitos, e que se crie caminhos inéditos. A hipocrisia é escondida pela máscara da criticidade. Não se vê um “eu” ou um “nós” no discurso. O pronome apassivador é o refúgio. Isto é um chamado para a primeira pessoa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010





Gritos, tambores e outros sons estridentes rasgavam o ar numa violência nunca antes percebida por mim. Aquilo era como um convite pra participar de uma manifestação contra tudo o que é conjuntural. O político, o social e todas as formas de representações e relações humanas eram postas em cheque naquele amálgama de textos, música e teatro. Uma experiência única me tocava naquele momento, e eu sentia os ecos propagarem-se nos meus ouvidos, os meus monstros inquietarem-se no meu peito: desafogo heterodoxo.
O sinal estava aberto e minha ansiedade crescia à medida que o tempo passava. Os carros deveriam parar, todos deveriam parar; não era possível esperar. A música que ali chegava invadia-me de tal maneira que meu único pensamento naquele instante era seguir as vibrações - que reverberavam-se no ar – até atingir o epicentro do fenômeno fenomenal (Por que não “fenomenal”? Errado seria se não o fosse). Quando percebi o caminho livre, ousei andar à procura do acontecimento. Ao terminar de cruzar a rua, avistei ainda de longe um punhado de gente a acompanhar com curiosidade. Era um evento único.