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sábado, 30 de outubro de 2010

Repúdio

Não existe. Não existe o agora. Não existe o presente. Antes ausente; tudo não aconteceria, obviamente por não haver lacuna temporal que "abrigue" e possibilite ocorrências. Sim, isso sim seria o ideal. Por conseguinte, as pessoas não existiriam. Pra que existem as pessoas (agentes do acontecimento), senão para agirem, para realizarem e tornarem real e exequível o potencial humano? É certo que o fato depende do ser e, o ser, depende do fato. Essa reciprocidade inviabilizaria a existência de ambos os fatores. Assim sendo, não existo eu, não existe você, nem mesmo este texto e o motivo pelo qual foi escrito. O inexistente é inexplicável. E só, e fim.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sinto falta do ninho em volta
Sinto o ninho: sua falta, de volta.
E à volta as palavras desatam-se
Como o ninho e o "sinto" que falo-te.

Através de meu canto: espanto!
E meu canto, de espanto, atravessa.
O ex-pranto, que tanto!, nem tanto...
Meus dizeres aliviam a pressa.

Sinto falta do ninho em volta...

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(Os poemas têm vida própria. O fim de sua motivação inicial não apaga o brilho de suas palavras. No entanto, não se sabe na verdade o que é o fim.)

sábado, 23 de outubro de 2010

“Ou isto ou aquilo” ou, ainda, Cecília, nada! Escolher apenas entre duas vias é negar a multiplicidade de rumos que a vida pode possibilitar. As coisas não são tão simples assim. Ah!, não, não são. Entretanto é bem verdade que às vezes o futuro é determinado por essa dicotomia, ou pela escolha que se faz diante dela. E é reconhecidamente verídico, também, a aversão que se tem das opções que surgem do nada, sem prévia consulta, sem participação do maior afetado por elas. Oh!, Deus, é como um pleito eleitoral. (Não importa a antipoeticidade da comparação, tendo em vista a proximidade dos eventos) Ele oferece candidatos alheios ao povo, propagandeando propostas e juras sem fim. Assim como numa bifurcação irredutivelmente bifurcada. Não existiria uma terceira opção? É certo, não se quer apenas mais uma opção, talvez uma quarta ou quinta seriam bem-vindas para uma boa apreciação. Reinvidica-se um verdadeiro pluripartidarismo com extensões transcedentes à política. Pede-se opções de radicalismo, de moderação, de erradicação do falsealismo e um pouco mais. Exige-se disputas e ofertas não clichês. Enfim, uma demanda clama por novas opções. Isso se estende a todo o Universo, à todos os âmbitos, e que se crie caminhos inéditos. A hipocrisia é escondida pela máscara da criticidade. Não se vê um “eu” ou um “nós” no discurso. O pronome apassivador é o refúgio. Isto é um chamado para a primeira pessoa.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010





Gritos, tambores e outros sons estridentes rasgavam o ar numa violência nunca antes percebida por mim. Aquilo era como um convite pra participar de uma manifestação contra tudo o que é conjuntural. O político, o social e todas as formas de representações e relações humanas eram postas em cheque naquele amálgama de textos, música e teatro. Uma experiência única me tocava naquele momento, e eu sentia os ecos propagarem-se nos meus ouvidos, os meus monstros inquietarem-se no meu peito: desafogo heterodoxo.
O sinal estava aberto e minha ansiedade crescia à medida que o tempo passava. Os carros deveriam parar, todos deveriam parar; não era possível esperar. A música que ali chegava invadia-me de tal maneira que meu único pensamento naquele instante era seguir as vibrações - que reverberavam-se no ar – até atingir o epicentro do fenômeno fenomenal (Por que não “fenomenal”? Errado seria se não o fosse). Quando percebi o caminho livre, ousei andar à procura do acontecimento. Ao terminar de cruzar a rua, avistei ainda de longe um punhado de gente a acompanhar com curiosidade. Era um evento único.